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Entre quadros e balões: uma nova maneira de ensinar

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Nos últimos dias venho pensando em como tornar as aulas mais significativas para os meus alunos. Em como criar conexões que não sejam apenas conteúdos empurrados ladeira abaixo, mas pontes verdadeiras entre o que eles estudam e o que eles vivem. Foi então que me veio uma ideia: transformar os conteúdos do livro didático em HQs. Sim, em histórias em quadrinhos! Pode parecer simples — ou até pueril — mas acredito que ali mora uma potência. As HQs têm uma linguagem acessível, visualmente estimulante, com ritmo narrativo e possibilidades infinitas de abordagem. Imagino personagens que vivam dilemas cotidianos, como dividir uma pizza entre amigos, calcular o tempo de um trajeto ou entender por que um gelo derrete mais rápido fora da geladeira. Tudo isso contado em quadrinhos, com falas, expressões faciais e humor. Ao final, um espaço para os alunos interagirem: resolverem um desafio, criarem um final alternativo, desenharem uma cena extra. Claro, ainda preciso amadurecer muito a ideia. N...

Fazer com cuidado também é aprender

  Fazer com cuidado também é aprender Hoje, corrigindo trabalhos dos meus alunos, fui atravessado por um sentimento estranho. Não era exatamente de frustração, mas de incômodo sutil. Muitos dos trabalhos estavam mal acabados. Havia ideias interessantes, sim, mas a apresentação me dizia outra coisa: recortes tortos, dobraduras mal feitas, folhas amassadas, letras jogadas com pressa. Uma certa ausência de carinho. Não é sobre perfeição ou talento para artes visuais. Eu sei que o senso estético se desenvolve com o tempo, e cada um tem seu ritmo. Mas é sobre o cuidado. O cuidado com o que se produz, com o que se mostra ao mundo como resultado de um trabalho. Porque um trabalho também comunica, mesmo quando a gente não percebe. Ele diz algo sobre o quanto a gente se importou, o quanto se dedicou, o quanto quis que fosse bonito, mesmo sendo simples. Fazer com capricho é uma forma de aprender. É quando a gente percebe que o processo não termina na resposta certa ou no conteúdo revisado...

Mais do que matemática

Mais do que matemática Amanhã é meu aniversário. Hoje fui dar aulas normalmente — dia comum, com as duas aulas de Matemática do 6º ano, turma da qual sou professor regente. A primeira aula transcorreu com tranquilidade: alunos organizados, atividade fluindo, atenção presente. Mas foi quando o sino tocou anunciando a troca de período que algo inesperado e doce aconteceu: do nada, os alunos começaram a cantar parabéns. Aquilo me pegou de surpresa. Fiquei sem jeito, com o rosto vermelho, rindo meio travado — tenho dificuldade com elogios. Sempre acho que são exagerados ou protocolares, meio falsos até. Mas esse gesto me tocou profundamente. Mais do que o carinho, o que ficou ecoando em mim foi o que aconteceu antes e depois do parabéns. Alunos focados, dividindo bem os espaços de fala, fazendo silêncio para ouvir os colegas, reconhecendo que poderiam ter feito um trabalho melhor e pedindo para refazer. Isso, pra mim, foi o verdadeiro presente. A sensação de que, mesmo sem querer, ...

Dois pesos e duas medidas, ou quando o amor se torna unilateral

Dois pesos e duas medidas, ou quando o amor se torna unilateral Hoje, após uma aula difícil, precisei recorrer aos pais para que me ajudassem a resgatar o foco dos alunos. Enviei uma mensagem respeitosa, mas sincera, pedindo que conversassem com seus filhos sobre a importância de ouvir, de estar presente e atento na aula. Escrevi com o peso de quem já tinha tentado de tudo antes de recorrer a esse gesto. O que mais me incomoda nessas situações é que parece que cada turma exige um professor diferente. Em algumas, consigo sorrir, brincar, inventar. Em outras, mal consigo concluir uma explicação sem interrompê-la por barulho, distrações, conversas paralelas. E isso me corrói por dentro, porque me faz sentir incoerente, como se estivesse medindo com duas fitas métricas distintas. Mas a verdade é que o amor pelo que faço é o mesmo em todas as salas. O problema é quando esse amor se torna unilateral. Quando dou o melhor de mim e recebo desinteresse, descaso ou desrespeito. Q...

Crônicas de Domingo: Silêncio, café e os quase 41

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🕰️ Crônicas de Domingo 📍 Domingo, silêncio e a aproximação dos 41 Hoje é domingo. Moro sozinho, e nesse dia, o almoço é sempre algo rápido — mais pela vontade de não cozinhar do que pela fome em si. O silêncio da casa, que deveria ser descanso, se transforma em espelho. E o que vejo refletido nem sempre é leve. A sala de aula, com todo seu barulho, sua confusão e energia às vezes caótica, me motiva. Me lembra que estou vivo, que tenho um papel, um propósito, um motivo pra sair da cama. Mas no domingo, sem as vozes dos alunos, o barulho vem de dentro . E esse é mais difícil de ignorar. Entre um café e uma tentativa de organizar aulas, surgem pensamentos intrusivos. O corpo pede descanso. A mente exige produtividade. Estou cursando duas pós-graduações e uma nova graduação. Faço cursos, leio, estudo, me esforço. Mas, sinceramente? Sinto como se tudo isso não estivesse me levando a lugar nenhum. Na quarta-feira, dia 11, faço 41 anos. E me sinto perdido. Não sei ...

Entre ensaios e expectativas (ou: quando o processo não parece ensinar... mas ensina)

Hoje foi dia de festa na escola. Um mês inteiro de preparações culminou nas apresentações da nossa tradicional festa junina. Foi bonito, sim. Os alunos dançaram, o público aplaudiu, e no fim ficou aquele alívio coletivo de que "deu tudo certo". Mas confesso que o que ficou comigo não foi exatamente o resultado — e sim o caminho até ele. Sou professor de matemática. Não sou dançarino, nem coreógrafo. E, honestamente, ensaiar quadrilha com meus alunos já seria desafiador para alguém com aptidão. No meu caso, foi quase uma travessia. Ensaios cheios de bagunça, risos fora de hora, comandos ignorados, empurrões e impaciência da minha parte. Eu saía de cada ensaio mais descrente. No último, fui para casa quase certo de que a apresentação seria desastrosa. Mas hoje, lá estavam eles. Dançando. Bonitinhos, sincronizados dentro das suas possibilidades. Felizes. E eu... incomodado. O incômodo vem do fato de que eles conseguiram. E eu não vi isso acontecer durante o processo. Fiquei...

Entre o giz e o café

Às vezes a gente pensa melhor durante o intervalo. Não é na formação pedagógica, nem no planejamento, nem mesmo na aula mais bem dada. É ali, no canto da sala dos professores, com uma caneca morna na mão e a cabeça cheia de aula, que a gente entende o que está sentindo. “Entre Parêntesis” nasceu disso. De um tempo suspenso. Uma tentativa de dar nome às inquietações, aos incômodos e às ideias que vivem entre uma aula e outra. Aqui eu escrevo sem pressa, como quem puxa assunto na hora do café. Sobre tudo. E sobre nada também. Seja bem-vindo à pausa.