Dois pesos e duas medidas, ou quando o amor se torna unilateral
Dois pesos e duas medidas, ou quando o amor se torna unilateral
Hoje, após uma aula difícil, precisei recorrer aos pais para que me ajudassem a resgatar o foco dos alunos. Enviei uma mensagem respeitosa, mas sincera, pedindo que conversassem com seus filhos sobre a importância de ouvir, de estar presente e atento na aula. Escrevi com o peso de quem já tinha tentado de tudo antes de recorrer a esse gesto.
O que mais me incomoda nessas situações é que parece que cada turma exige um professor diferente. Em algumas, consigo sorrir, brincar, inventar. Em outras, mal consigo concluir uma explicação sem interrompê-la por barulho, distrações, conversas paralelas. E isso me corrói por dentro, porque me faz sentir incoerente, como se estivesse medindo com duas fitas métricas distintas. Mas a verdade é que o amor pelo que faço é o mesmo em todas as salas.
O problema é quando esse amor se torna unilateral. Quando dou o melhor de mim e recebo desinteresse, descaso ou desrespeito. Quando o afeto, que deveria ser uma ponte, vira um muro. Quando a alegria de ensinar é sobreposta pela tarefa de manter o controle.
A frase clichê "aula legal é pra turma legal" não devia ser verdade, mas às vezes é. E isso machuca. Porque o professor não deveria precisar se reinventar por sobrevivência, mas por paixão.
Não é falta de paciência. É excesso de silêncio não correspondido. E quando a gente, com dor no coração, precisa levantar a voz ou tirar um aluno da sala, carrega a culpa como se tivesse desistido. E é isso que pesa.
Por isso, deixo aqui esse relato não como reclamação, mas como desabafo. Porque ensinar também é um ato de vulnerabilidade. E, se não estivermos dispostos a falar sobre os dias em que o amor não basta, estaremos sempre fingindo que ensinar é apenas uma questão de método. Quando, na verdade, é sempre, sempre uma questão de humanidade.
Comentários
Postar um comentário